Sufrágio

26 de jun. de 2011

A dor é um farol que nos ilumina, que nos purifica....

" Toda criatura geme", diz-nos São Paulo e o homem sofre mais do que qualquer outra. A dor é como um dardo que fere de continuo o coração humano acompanhado-o do berço até o túmulo. Exactamente ele ri, graceja, faz cara alegre, como para persuadir a todos de que está contente com a sua vida. Mas debaixo dessa aparente alegria, quantas misérias se ocultam! Quantos rostos choram debaixo da máscara que os cobre! Quantos corpos minados pela doença ou torturados por enfermidades secretas! Quantos corações desconhecidos, abandonados, obrigados a recalcar em si mesmos sua ternura muda! Ajuntai a isto a pobreza com o seu cortejo de humilhações, de trabalhos forçados e às vezes repugnantes, e vos aparecerá empolgante de verdade a palavra dos nossos livros santos : " O homem está cheio de muitas misérias". Entretanto ao sofrimento ninguém se acostuma. Fato tão universal sabe sempre apresentar-se em baixo de novos aspectos : é porque o sofrimento não é um fato como os outros, é ele um escândalo para o nosso coração, e mais do que ninguém talvez o cristão tem motivo de admirar-se disto, porque, à primeira vista, parece inconciliável com os atributos divinos.
De fato, se Deus é a própria Bondade, por que deixa seus filhos na desgraça? Eis  uma das objecções que mais comummente os homens apresentam. Que estes homens de o trabalho de abrir as primeiras páginas do Gêneses e ler o que a fé nos ensina a este respeito. Deus é amor e foi por amor que criou o mundo, dando-lhe como rei o homem, criatura inteligente e livre. Só neste mudo o homem é livre e pode oferecer a Deus uma homenagem digna dEle : a de um coração voluntariamente submetido à sua lei. Mas a liberdade é como uma arma com a qual podemos nos defender ou ferir, e o homem se serviu desse dom divino, que devia ser para ele uma fonte de méritos, para sua ruína : o homem, livre de se unir  Deus, preferiu, por uma estranha aberração, procurar fora dEle a perfeição e a felicidade. O gesto de Adão teve consequencias incalculáveis. Adão se vê em presença de uma terra hostil, eriçada de sarça e povoada de animais ferros. Ei-lo constrangido ao trabalho e a uma luta sem mercê e a própria morte prevalece sobre aquela criatura destinada à imortalidade.
Tal é a origem do sofrimento. Não foi Deus que o fez, tão pouco como a morte. Não se pode incriminar nem sua bondade nem seu poder nem sua sabedoria, foi ele que abusando de sua liberdade fez em si mesmo essas profundas feridas que sangram ainda.
A nós, pobres filhos de Adão não restaria que sofrer, desesperados, as consequencias do pecado original se Deus providentíssimo não tivesse, com um ato infinito de sua misericórdia, reparado a malícia do homem. E eis o próprio Deus que baixa à terra, que se veste da carne humana, que se faz em tudo semelhante ao homem, que sofre como os homens, que morre para nos salvar. E aquela cruz sobre a qual sofreu e morreu o Deus-Homem, de um símbolo de ignomínia torna-se um facho que ilumina. Com a cruz Nosso Senhor transformou o sofrimento, o santificou, e nós, os irmãos de Jesus Cristo, não vemos mais dor somente um castigo do pecado, mas um farol que ilumina, que nos purifica, que nos torna mais piedosos e mais caritativos, desenvolvendo em nós a caridade, para com Deus e a benevolencia para com o próximo.

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