Sufrágio

3 de jul. de 2011

Devoção em favor das santas almas do Purgatório.


Se a terra e o céu estão cheios da glória de Deus, não se encontra ela menos nessa triste mas interessante região onde estão retidas pela justiça dum Salvador pleno de amor, longe da visão beatifica, prisioneiros que alimentam esperança ; e se nos é possível servir os interesses de Jesus na terra e no céu, ouso dizer que podemos fazer ainda no purgatório. O que me esforço em demonstrar aqui, é a maneira como podeis servir a Deus com vossa orações, com vossas praticas de devoção, quaisquer que sejam, por outro lado, as ocupações e deveres do vosso estado, dirigindo principalmente vossas intenções para o purgatório.Pois não obstante a opinião de muitos teólogos, que, confessando aliás que as Santas almas não opõem nenhum obstáculo á eficácia das orações que se fazem por elas, pretendem que o efeito destas mesmas orações não é infalível ; é certo com tudo que efeito é muito mais seguro que o das orações que dirigimos a Deus pela conversão dos pecadores, cuja perversidade e más disposições paralisam tão freqüentemente os esforços feitos em seu favor. Na ordem de São Domingos, dois bons Irmãos discutia entre eles, a respeito do mérito da devoção, que tem por objetivo a conversão dos pecadores, e a devoção as santas almas do purgatório. Frei Beltrão era o defensor dos pobres pecadores, aplicava sempre a missa por eles e oferecia todas as suas penitencias e orações pela intenção de obter a graça da sua conversão. " Os pecadores privados da graça, dizia ele, estão num estado de perdição ; o espírito maligno não cessa de lhes armar emboscadas, afim de os privar da visão beatifica e leva-los para a estância das dores eternas.  Nosso Senhor desceu do céu e sofreu por eles a morte mais cruel. Haverá nada melhor que seguir o seu exemplo e trabalhar com ele na salvação das almas ?  Quando se perde uma alma, perde-se ao mesmo tempo o preço da redenção. Quanto as almas do purgatório, já estão em segurança ; tem a certeza da sua salvação eterna. E verdade que estão mergulhadas num mar de dores, mas sabem que por fim hão de sair dele ; são as amigas de Deus , ao passo que os pecadores são inimigos dele ; e viver na inimizades de Deus é o maior dos males."
Frei bento não advogava com menor calor a causa das almas que sofrem. Oferecia por intenção delas todas as missas de que podia dispor, bem como as orações e as penitencias que se impunha.. " Os pecadores, dizia ele, estão presos nas cadeias que eles mesmos se fabricam . Podem sair do caminho da iniquidade quando lhes aprouver.  O jugo que suportam é obra sua. Enquanto que os mortos, de pés e mãos atadas, são retidos contra sua vontade em meios das torturas mais cruéis. Escutai, meu irmão, façamos uma comparação. Suponhamos que temos na nossa presença, neste momento, dois mendigos. Um deles, robusto e saudável, pode fazer uso de suas mãos e trabalhar, se quiser, mas prefere sofrer os rigores da pobreza a renunciar as delicias da preguiça ; o outro, pelo contraio, doente, paralítico, impossibilitado de fazer coisa alguma, não pode, na triste condição a que se ver reduzido, deixar de implorar a caridade dos transeuntes com seus clamores e lágrimas. Qual dos dois é mais digno de piedade, principalmente se o ultimo é presa dos mais acerbos sofrimentos ?  E esta precisamente a historia dos pecadores e das almas do purgatório. Estas suportam o martírio mais cruel e estão impossibilitadas de fazer seja o que for em seu próprio beneficio. É verdade que merecem estes suplícios por seus pecados ; mas agora estão purificadas dessas manchas. necessariamente entraram em graça com Deus antes de morrer, doutro modo não se teriam salvado. Portanto, são agora caras a Deus, indizivelmente caras; e uma caridade bem ordenada deve conformar-se com os sábios afetos da vontade divina, e estimar mais o que Deus mais estima." Sem embargo, Frei Beltrão não queria ceder, embora se visse impossibilitado de dar uma resposta satisfatória as objeção do seu amigo. Mas na noite seguinte teve uma visão, que parece o convenceu inteiramente, pois desde aquele momento mudou de pratica, oferecendo todas as missas, todas as orações, todas as penitencias pelas santas almas do purgatório. A autoridade de Santo Tomás parece vir em auxilio da opinião de Frei Bento, quando o doutor da Igreja se exprime assim : " A oração pelos mortos é mais agradável aos olhos de Deus, que a oração pelos vivos, pois os defuntos tem maior necessidade de socorros, porque se não podem auxiliar a si mesmos, como os vivos. 

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