O Cristianismo, ao propor-nos este fim tão sublime, transforma a nossa vida terrena. O filósofo grego Zenão perguntou uma vez ao óraculo, que devia fazer para levar uma vida virtuosa. A resposta constava só destas palavras : - "Pergunta-o aos mortos".
Realmente, quem costuma interrogar os mortos,
- o que em linguagem cristã significa pensar na vida eterna, - vê com uma luz completamente distinta toda a vida terrena e todos os seus acontecimentos. Sub specie aeternitatis, esse homem avalia todas as coisas " à luz da eternidade". Sobre todos os seus pensamentos e desejos, sopra vento da eternidade que os enobrece e os sublima. Durante toda a vida, o verdadeiro cristão procura guarda os mandamentos da lei de Deus e da Igreja. Ele sabe muito que o ouvir missa, a frequência dos sacramentos, a oração, o jejum e a penitencia aproveitam para a vida eterna. Também ele trabalha muito para ganhar o sustento de cada dia, e para melhorar a sua situação neste mundo. Mas no meio das suas canseiras não se esquece das palavras do Senhor: " De que serve ao homem ganhar todo o mundo, se vem a perder a sua alma ? ".
Também ele procura assegurar-se uma existência desafogada. Mas quando o assalta a tentação de enriquecer injustamente, recorda-se das palavras do Senhor: "Insensato, esta mesma noite hão de exigir de ti a entrega da tua alma. Para quem serão os bens que armazenaste? " .
Numa palavra, quem pensa com seriedade na vida eterna, quem não se limita a acreditar nela, mas faz descer esta crença até ao coração, ajuizá de toda a sua vida terrena e vive-a à luz da eternidade. Ainda que apoia ambos os pés na realidade, - porque tem de viver neste mundo e não no outro, - contudo o coração palpita-lhe sempre para o Céu, o rosto levanta-se-lhe para as estrelas, e pronuncia muitas vezes aquelas palavras reconfortantes: " Toda esta pobre vida terrena para alcançar a coroa eterna!" A vida eterna bem merece que dedique toda a vida terrena para a alcançar. Mas, realmente, merecerá a vida eterna tantos esforços, tanta mortificação?
Oh! mil vezes mais ainda!
De fato, que é a vida eterna? Empregamos uma expressão cujo conteúdo nos escapa: - Por todos os séculos dos séculos. Dizemos-la todos os dias, mas não somos capazes de abranger o seu significado. Neste mundo, estamos mergulhados no espaço e no tempo. No outro não há espaço nem tempo; mão há matéria, o tempo não consta de minutos e segundos. Não existe passado nem futuro - tudo é presente. Não existe ontem nem amanhã - somente hoje. Não existe manhã nem tarde - só meio-dia. Só lá o oceano não tem praias, nem a linha fim!
Para nos representarmos a eternidade de um modo intuitivo, o melhor seria empregar um círculo em vez de uma linha. Uma linha, por maior que seja, sempre terá fim. O círculo, pelo contrário, não tem fim; cada um dos seus pontos é princípio e fim ao mesmo tempo. Recordemos as belas palavras de Santo Agostinho: " Vós, pobres, que vos falta, se tendes a Deus? Vós, ricos, que tendes, se vos falta a Deus? " Só assim podemos compreender aquela frase de Gardony: " Se tens a Deus, tens tudo; mas se não tens a Deus, não tens, nem terás nunca absolutamente nada". Só então se realizarão os anseios da prova de Berzsenyi: "Prostro-me com fervor ante o teu acatamento, ó meu Deus! Quando minha alma se libertar destas peias e conseguir aproximar-se mais se ti, só então verá realizados os seus anseios".
Ah! realmente a vida eterna bem merece que empregue toda esta pobre vida terrena para a alcançar.
" Toda a pobre vida terrena, para alcançar a coroa da eternidade!".
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