Sufrágio

20 de out. de 2010

Para que vivo?

A nossa vida só tem razão de ser, se existe vida eterna. É indiscutível que todo o ser tem um fim neste mundo. Por isso, ainda a mais tenra criança, quando nela começa a desperta o uso da razão, pergunta sem cessar:" Porquê? Porquê? Pai, pra que é isto? Mãe, pra que é aquilo?" E não te lembre dizer-lhe que não serve para nada. Porque então perguntar-te-á : Se não serve para nada, então porque existe?
Certa ocasião perguntou São Francisco de Assis a um pedreiro:
-Que estás a fazer, irmão?
Ele responde: -Trabalho todo dia.
-E para que trabalhas?
-Para ganhar dinheiro.
E para que queres o dinheiro?
-Para comprar pão.
-E para que queres o pão?
-Mas que pergunta! Para viver.
-E para que vives?...
Realmente esta é a grande pergunta, a pergunta definitiva.
-Para que vivo? Qual é o objetivo da minha vida? tudo tem fim neste mundo; e precisamente só a vida humana não há de tê-lo? Também em mim cada músculo, cada nervo, cada veia, cada cabelo, cada fibra, tem seu fim determinado; só o conjunto, não o há de ter? Certamente que também eu terei algum fim. Qual será esse fim? Se não há outra vida, o meu fim tem que estar neste mundo. Qual poderá ser, então, este fim? Porventura a riqueza? E poderá a riqueza ser objetivo digno do homem racional? Por muito que logramos entesoirar, teremos de deixar tudo aos herdeiros que se alegrarão com a herança. Podemos ser todos ricos? Por muito que as riquezas se multipliquem, isto não será possível. Haverá sempre uma multidão inumerável de pobres. E todos esses que não conseguiram ser ricos, para que viverão? Além disso quando alcançamos o fim, ficamos satisfeitos? Quando deixa o rico de formar e alimentar desejos? Nunca. É que a riqueza não pode ser nosso último fim. Poderá sê-lo então o prazer, o gozo contínuo, a alegria perene? Também não, porque deste modo a maior parte dos homens não alcançaria o seu fim, por ser tão mesquinho o quinhão que lhes cabe nos banquetes do prazer humano. Além disso, um ser é tanto mais perfeito quanto mais atingir o seu fim. Poderemos, porventura, afirma que é o homem tanto mais perfeito quanto mais tripudie no prazer?! De maneira nenhuma; muito pelo contrário. Talvez seja então quando se sinta mas insatisfeito,mais desiludido, mais triste. Qual será então o fim da vida humana? A fama e a honra? Este pensamento já seria mais nobre. Mas não basta, porque como alcançarão o seu fim, aqueles milhões de desconhecidos que, durante toda vida, cumprem , em silêncio, o seu dever, sem que ninguém os aprecie nem enalteça? Poderá ser este o objetivo? da vida? Lutar durante sessenta ou setenta anos, para depois desaparecer sem deixar rasto sequer? Pode o homem contentar-se com tão pouca coisa? Atiro uma pedra á água e logo começa a formar-se ondas em círculos. Depois de uns momentos, água fica tranquila, completamente lisa. Se atirar uma pedra grande, os circulos de ondas durarão mais tempo, mas também acabarão por desaparecer. Pode suportar-se a ideia de que a vida humana não seja mais alguma coisa? Sair e gritar, eis a vida. Gritar e sair, eis a morte.
Ah! se assim fosse, este pensamento bastaria para nos enlouquecer! Quando o homem se agita sem cessar em busca dos objetivos de sua vida, sem os poder encontrar em nenhuma parte, ao erguer os olhos para a vida ultraterrena, verá desanuviada a terrível incógnita. Claro que eu não encontro o meu fim neste mundo, nem encontro nele o meu posto.... Porquê? Porque Deus não me criou para este mundo. Esta vida terrena não é mais do que o prólogo do livro da eternidade. Na morte desfaz-se o corpo, rasgam-se os véus, e permanece a alma imortal que viverá para sempre.

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